Em 1º de março de 2022, entrou em vigor o novo Decreto nº 10.979, que reduziu em até 25% o Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para diversos produtos. Entre eles estão os carros novos. Com a renúncia fiscal, a Secretaria Especial da Receita Federal espera gerar um impacto positivo na economia brasileira de R$ 19,6 bilhões em 2022.
Nos carros novos, a redução do IPI foi de 18,5%. Com a medida, o objetivo do governo é melhorar as vendas, que estão em queda acentuada. De acordo com a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), em janeiro foram 116.601 exemplares emplacados contra 162.531 de janeiro de 2021, queda de 28,2%. Se compararmos o primeiro mês deste ano com dezembro do ano passado, a queda foi de praticamente 40%.
Redução dos preços de carros novos
Como existe a Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI), que leva em conta a cilindrada, o tipo de combustível, a eficiência energética e o peso total do carro, a redução de preço foi a seguinte:
- Motores de até 1.000 cm3: 1,3% de redução no preço;
- De 1.000 cm3 a 2.000 cm3 (flex): 1,8%;
- De 1.000 cm3 a 2.000 cm3 (gasolina): 2,4%;
- Acima de 2.000 cm3 (flex): 3,3%;
- Acima de 2.000 cm3 (gasolina): 4,6%.
Veja como ficaram os preços dos veículos mais vendidos com a redução do IPI, válida para a tabela de março de 2022:
1°) Fiat Strada: De R$ 94.074 para R$ 92.851 (diferença de R$ 1.222)
2°) Hyundai HB20: De R$ 74.590 para R$ 73.620 (diferença de R$ 969)
3°) Fiat Argo: De R$ 73.817 para R$ 72.854 (diferença de R$ 959)
4°) Jeep Renegade: De R$ 128.115 para R $126.449 (diferença de R$ 1665,50)
5°) Chevrolet Onix: De R$ 73.890 para R$ 72.929 (diferença de R$ 960,57)
6°) Jeep Compass: De R$ 164.280 para R$ 162.144 (diferença de R$ 2.135)
7°) Fiat Toro: De R$ 142.573 para R$ 140.719 (diferença de R$ 1.853)
8°) Volkswagen Gol: De R$ 69.790 para R$ 68.882 (diferença de R$ 907)
9°) Fiat Mobi: De R$ 62.950 para R$ 62.131 (diferença de R$ 818)
10°) Hyundai Creta: De R$ 121.690 para R$ 120.108 (diferença de R$ 1.581)
Efeito placebo
Como visto acima, a redução no preço final foi insignificante. Passado o primeiro mês de IPI reduzido, o decreto teve efeito nulo na venda de carros novos. O aumento de 9,65% das vendas de automóveis e comerciais leves em março em relação ao total de fevereiro pode ser atribuído à maior quantidade de dias úteis do mês. Comparados aos emplacamentos de março de 2021, a queda foi de 23,8%.
As razões para o insucesso do decreto são várias:
Aumentos seguidos nos preços dos carros
A indústria automobilística tem sofrido com a elevação constante no preço de insumos e componentes, causada pela pandemia e pela Guerra da Ucrânia. E isso é imediatamente repassado aos consumidores. Quase todas as montadoras têm reajustado o preço dos seus carros mensalmente, algumas até duas vezes por mês. Assim, a redução no preço pelo IPI menor muitas vezes perdeu o efeito logo em seguida.
Juros altos
Com os seguidos aumentos na taxa básica de juros, a SELIC, para conter a inflação, o custo do crédito está mais alto. Assim, o CDC (Crédito Direto ao Consumidor), modalidade de financiamento mais usada para comprar carro, ficou mais caro.
Aprovação de crédito mais difícil
Com a inflação, o poder de compra das classes baixas e média está sendo corroído e a inadimplência está alta. A renda menor faz as instituições financeiras ficarem mais rigorosas na aprovação do crédito para a compra dos carros novos. Com os preços nas alturas, muitas vezes o valor aprovado no financiamento não é suficiente para efetuar a compra.
Cautela do compradores
Mesmo os consumidores com boa renda e crédito alto estão com receio de contrair dívidas e assumir financiamentos devido às instabilidades política e econômica em um país à beira das eleições presidenciais.
Vendas menores, lucros maiores
Diante deste cenário não muito promissor, as montadoras já começam a se movimentar com os carros novos. A receita é investir em produtos mais caros e refinados, que possuem uma maior lucratividade e tem um comprador que não sofre tanto com crises econômicas. A Volkswagen, por exemplo, teve lucro recorde em 2021, mesmo com queda nas vendas.
A Ford seguiu o mesmo caminho. Ao abandonar a fabricação no Brasil de carros de entrada (Ka, Ka Sedan e EcoSport, que tinham volume de vendas, mas baixa lucratividade), a empresa livrou-se dos gigantescos custos operacionais de quatro fábricas. Assim, focou em modelos de maior valor, como as picapes Ranger e Maverick, os SUVs Territory e Bronco e o esportivo Mustang.
O resultado foi um lucro global 7% maior em 2021, mesmo com uma redução de 6% nas vendas da montadora norte-americana em comparação a 2020. Isso foi causado pelos efeitos negativos da pandemia de coronavírus na produção e entrega de veículos no mundo todo.
Última atualização em 03/06/2022