Quase todos os carros produzidos no Brasil atualmente possuem motores flexíveis. Isto significa que podem com consumir etanol, gasolina ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção. Mas você sabe como funcionam os carros flex?
Hoje em dia, até modelos de luxo de Audi, BMW e Mercedes-Benz apelaram para a tecnologia. Em 2019, a Toyota inovou e lançou o primeiro carro flex híbrido (que combina motor elétrico e a combustão) do mundo, o Corolla Hybrid.
Carros Flex – Liberdade de escolha
O principal apelo dos motores flex é a liberdade que dá ao proprietário para escolher o combustível mais vantajoso do ponto de vista financeiro. Como o etanol é proveniente da cana de açúcar, fica sujeito a grandes oscilações de preços por conta de entressafras, condições climáticas, cotação internacional do açúcar, entre outros. Quando o etanol está caro, opta-se pela gasolina.
No passado, contudo, não era assim. Os carros eram movidos apenas a álcool ou a gasolina. Não era possível escolher entre os dois combustíveis. Até chegar ao motor flex, foram necessários 24 anos de amadurecimento do motor movido a álcool, além de sua quase extinção. Mas você sabe como funcionam os carros flex?
Conheça os carros que mais consomem combustível
Como surgiram os Carros Flex
Tudo começou em novembro de 1975. Por meio de um decreto, o então presidente Ernesto Geisel criou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Ele tinha como objetivo incentivar a produção de um combustível genuinamente brasileiro, extraído da cana de açúcar e que fosse mais barato que a gasolina. Na época, ela sofria altas constantes com a crise mundial do petróleo.
Um dos “cabeças” do Proálcool foi o engenheiro gaúcho Urbano Ernesto Stumpf. O desenvolvimento dos motores movidos a álcool recebeu a sua assinatura. Em julho de 1979, era lançado o primeiro carro movido a álcool no mundo. O pioneiro foi o compacto Fiat 147, produzido em Betim (MG) e logo apelidado de “Cachacinha” pelo cheiro parecido com o da bebida que soltava pelo escapamento.
Do auge a quase extinção
O carro a álcool caiu rapidamente no gosto do brasileiro, apesar do consumo maior e da dificuldade em dar partida nos dias frios. O auge do carro a álcool foi em 1986, quando 90% dos carros vendidos no Brasil eram movidos pelo derivado de cana de açúcar.
Na década de 1990 a história mudou. O álcool começou a subir, enquanto o preço da gasolina caía. Como resultado, no fim da década apenas 1% da produção de automóveis brasileiros era de carros a álcool. Mas a solução estava próxima e era mais fácil do que se imaginava.
Como funcionam os Carros Flex
Se você quer saber como funcionam os carros flex, saiba que em 2003, o primeiro carro flex do mundo fez sua estreia no Brasil. O Volkswagen Gol Totalflex se destacava por poder usar álcool, gasolina ou a mistura dos dois combustíveis.
A sua concepção só foi possível com o avanço da tecnologia das centrais eletrônicas dos motores. Sensores identificavam qual combustível estava sendo queimado e a central se encarregava de mudar os parâmetros da alimentação e ignição do motor.
A taxa de compressão do motor, que é alta nos motores a álcool e baixa nos a gasolina, ficou em um meio termo. Componentes que entram em contato com o combustível receberam proteção extra para aguentar o maior poder corrosivo do álcool.
Esquecido há mais de uma década, o famoso tanquinho de gasolina no cofre do motor voltava com tudo. Ele era o responsável por injetar o derivado de petróleo no coletor de admissão, facilitando as partidas a frio quando o carro estava abastecido com álcool.
Seja Flex e venda bem
Como os carros a álcool no Proálcool, os carros flex atraíram a atenção dos brasileiros e começaram a vender bem. As fabricantes que demoraram a adotar a tecnologia em seus modelos sofreram com quedas nas vendas. Para vender bem, um carro tinha que ser flex.
Durante a década de 2000, cada vez mais carros iam ganhando a injeção flex e a tecnologia ia evoluindo. Em 2009, o tanquinho de gasolina foi abandonado em outro Volkswagen, o Polo E-Flex. No mesmo ano, a ANP (Agência Nacional do Petróleo) passou a utilizar o nome etanol no lugar de álcool como forma de o consumidor não associar o combustível com o álcool encontrado nas bebidas alcoólicas.
Tecnologia madura
Agora que você entendeu como funcionam os carros flex, saiba que, nos últimos anos, o gerenciamento dos motores teve grandes melhorias. Isso proporcionou um consumo menor com o uso de etanol, um dos grandes problemas dos carros flex. Novas tecnologias foram lançadas, como o uso da injeção direta, turbocompressor e a abolição quase total do famigerado tanquinho de gasolina. Hoje, o carro flex está maduro e não requer nenhuma atenção especial com a manutenção. Você pode usar etanol ou gasolina quando quiser, sem qualquer prejuízo ao funcionamento do carro.
Apesar de benéfica para o bolso do consumidor, a tecnologia flex acaba limitando o desenvolvimento dos motores monocombustíveis. Se ela não existisse, seria possível termos motores movidos somente a etanol ou a gasolina com desempenho melhor e consumo menor do que os flex.
Como carros flex são uma imposição do mercado, é suicídio não tê-los em seus concessionários. As fabricantes acabam não apostando em carros que consomem apenas um combustível. Outro fator que poderia contribuir para o retorno dos monocombustíveis é que o etanol não é vantajoso em muitos estados brasileiros durante o ano todo.
Faça a conta certa
A famosa conta dos 70% se popularizou junto com a tecnologia flex. O número é obtido dividindo o valor do etanol pelo da gasolina. Se o resultado for menor do que 0,70, recomendam usar etanol. Se der acima, o melhor é a gasolina. Esta conta foi feita lá em 2003 com base no rendimento do motor 1.6 Totalflex do Gol. Só que os motores evoluíram muito desde então e muitas vezes são bastante econômicos com etanol.
Então esqueça os 70%. Para saber qual combustível compensa mais no seu carro, calcule o custo por quilômetro com cada um deles. Encha pelo menos três tanques com cada combustível para que a central eletrônica faça a leitura correta e o consumo fique estabilizado.
Faça a média do custo por quilômetro dividindo o preço do combustível pelo consumo médio obtido. Exemplo: etanol com preço por litro de R$ 3,099 : pelo consumo médio de 10 km/l = R$ 0,309/km. Gasolina: R$ 4,399 : 12,5 km/l = R$ 0,351/km. Pronto! Assim você terá o custo correto com etanol ou gasolina. No exemplo acima, o etanol pode chegar aos R$ 3,499 – ou 79,5% do preço da gasolina – que ainda será vantagem utilizá-lo.
Última atualização em 10/02/2020