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Você já ouviu falar do Câmbio Powershift?

Por 8 de janeiro de 2020agosto 8th, 2024Mobilidade
Imagem de câmbio Powershift

Se você acompanha o mercado automotivo ou está pesquisando sobre câmbios automáticos, já deve ter se deparado com este nome. Lançado mundialmente pela Ford em 2010, o câmbio Powershift vem colecionando polêmicas desde então. E elas são tantas que a montadora norte-americana achou melhor tirá-lo de linha, inclusive no mercado brasileiro.

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Trocas rápidas e maior economia de combustível

O câmbio automatizado Powershift de seis marchas, conhecido como DPS6, chegou com a promessa de trocas de marcha automáticas mais rápidas e quase imperceptíveis. Também prometia consumo menor em comparação aos câmbios automáticos convencionais. Seu funcionamento era basicamente o mesmo de um câmbio manual, porém as trocas de marcha eram feitas por meio de sensores e de um mecanismo eletro-hidráulico.

Na prática funcionava como um câmbio automático. Você colocava a alavanca na posição D e acelerava, sem pedal de embreagem ou troca de marchas. Seu destaque eram as duas embreagens, uma para as marchas pares e outra para as ímpares, como nos câmbios PDK, da Porsche, ou F1, da Ferrari. Com elas, as marchas inferiores ou posteriores já ficavam engatadas, reduzindo o tempo e dando suavidade nas trocas.

Uma beleza quando funcionava

Realmente o comportamento do câmbio Powershift era elogiável. Os primeiros modelos a recebê-lo no Brasil foram o EcoSport de segunda geração, em 2013, e o New Fiesta, no ano seguinte, os dois com motor Sigma 1.6 16V. 

Ainda em 2014, o novo Focus foi lançado com a caixa Powershift para os motores 1.6 e 2.0. O trio tinha comportamento dinâmico elogiável e muita agilidade. Parecia que a Ford tinha acertado com a escolha da nova transmissão.

Trepidações e travamentos

Só que a lua-de-mel durou pouco e logo os mesmos problemas que já atormentavam proprietários em outros países começaram a aparecer por aqui. Trepidações ao arrancar com o carro, ruídos, perda de potência do motor e superaquecimento. Em seguida, o câmbio Powershift começou a dar trancos nas trocas e a travar. E não eram casos isolados. Muitas unidades davam problemas e as concessionárias ficavam lotadas.

A Ford reconheceu os problemas somente no começo de 2016 – após ser notificada pelo PROCON-SP – e começou a reparar os carros que apresentavam defeito. A garantia foi ampliada de três para cinco anos ou 160.000 quilômetros. Os defeitos, segundo a montadora, eram causados pela contaminação de uma das embreagens (que funciona a seco) pelo fluido da transmissão. Uma nova vedação, inclusive para os modelos que ainda seriam produzidos, resolveria o problema.

Tudo ficou como estava

Na prática não foi assim. Carros reparados voltaram a ter os mesmos problemas, assim como unidades produzidas posteriormente. A garantia passou para dez anos ou 240.000 quilômetros, mas o estrago já estava feito e Ford equipado com câmbio Powershift virou sinônimo de dor de cabeça.

O barato pode sair caro

Nunca o velho ditado fez tanto sentido. Só para tentar encontrar a solução e reparar os câmbios em garantia no mundo todo, estima-se que a Ford já tenha gasto mais de 3 bilhões de dólares. Fora os processos judiciais. Uma ação coletiva movida nos EUA por proprietários de carros com câmbio Powershift resultou em uma indenização de 35 milhões. O mesmo aconteceu na Tailândia e na Austrália.

Mesmo com a fama de problemático, o câmbio Powershift continuou equipando Fiesta e Focus até 2019, quando ambos saíram de linha no Brasil sem deixar sucessores. No EcoSport, que ainda é produzido, a Ford substituiu a caixa por um câmbio automático convencional, o mesmo que é usado na linha Ka. Fim dos problemas!

Os pesadelos continuam

Não para os donos de modelos usados. Há relatos de proprietários que desistiram do reparo em garantia oferecido pelas concessionárias e encontraram a solução em oficinas especializadas em câmbios. Os custos ficaram entre R$ 7.000 e R$ 10.000.

Os defeitos apontados pelos reparadores independentes são diferentes dos reconhecidos pela Ford. Eles indicam falha na vedação da caixa seca da embreagem, que pode ser contaminada por agentes externos como água e poeira. Assim, embreagens, garfos e rolamentos oxidam travam. Além disso, os atuadores das embreagens ficam expostos e são bastante sensíveis a umidade.

Câmbio Powershift: ninguém quer?

Pensa que as dores de cabeça dos proprietários acabaram? Nada disso! A má-fama do câmbio Powershift também fez estragos no mercado de carros usados. Os modelos equipados com a caixa problemática sofrem desvalorização acentuada na hora da troca, pois é muito mais difícil de revendê-los.

Enquanto um Fiesta usado com câmbio manual demora, em média, de 15 a 30 dias para ser vendido, um Powershift chega a ficar 120 dias parado no estoque. Sendo assim, os modelos automatizados custam entre R$ 1.000 e R$ 2.000 a menos. Alguns lojistas de carros usados até evitam pegar carros com câmbio Powershift para não terem reclamações de clientes após a compra.

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Última atualização em 08/01/2020